cidadania

Amigos promovem oficinas de audiovisual para internos do Case de Santa Maria

Foto: Gabriel Haesbaert

O professor João Pedro Amaral, 30 anos, nasceu em Santa Rosa, mas foi em Santa Maria que começou, em 2016, um projeto que mistura três paixões: educação, voluntariado e cinema. Para ele, a principal motivação para ajudar as pessoas é a possibilidade de transformar realidades em vários aspectos, entre eles, o social. E, para continuar nessa missão, resolveu, como voluntário, levar adiante um projeto, do qual fez parte como professor.


No Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac, ele ministrou, em parceria com os amigos Rafael Salles, 31 anos, e Thomás Townsend, 28, oficinas de produção audiovisual com alunos do Ensino Médio. A iniciativa foi registrada, em 2017, como projeto de extensão da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), através da TV Campus, onde Rafael e Thomás são funcionários. Hoje, João Pedro é voluntário na iniciativa.

Após as oficinas no Olavo Bilac serem um sucesso entre os alunos, resultando, inclusive, em três edições do Festival Bilaquiano de Curtas (Febic), os amigos decidiram ampliar os desafios sociais e passaram a ministrá-las, em setembro do ano passado, no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case), unidade regional da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase), que abriga 71 adolescentes, que cumprem medidas com finalidade pedagógica por terem cometido atos infracionais.

No Case, as aulas passaram a ter características diferentes das oferecidas no Olavo Bilac. Conforme João Pedro, uma turma de jovens de 13 a 18 anos foi dividida em dois grupos, com cinco integrantes cada. Uma equipe gravou o curta Dormitório 19 e, a outra, o curta Naskiera. Os alunos do Case filmaram apenas nas dependências internas da instituição e da Escola. Estadual Humberto de Campos, pois não têm permissão para sair. A escola fica no prédio anexo ao Case e atende os internos do local.

- Trabalhamos apenas com alunos internos que não costumavam sair do Case nos finais de semana. Assim, gravamos nos corredores, salas de aula, secretaria e dormitórios - explica João Pedro, que é mestre em literatura pela UFSM.

João Pedro conta que os mesmos equipamentos utilizados nas oficinas no Olavo Bilac foram usados no Case. João Pedro, Rafael e Thomás estão realizados com o resultado do trabalho desenvolvido com os jovens abrigados no serviço de proteção social.

- É legal ver o engajamento deles. Fiquei impactado com a reação de um aluno ao ver a própria imagem na câmera. Fazia tempo que ele não se via. Eles não têm acesso a espelhos e a outros objetos cortantes - diz Thomás.

Um pouco da identidade dos internos está presente nos curtas. Dormitório 19 conta a lenda de um quarto mal assombrado do Case de Santa Maria. O título da comédia Naskiera é baseado em uma gíria dos alunos, que significa "muito legal". Os curtas não foram divulgados porque a imagem dos jovens não pode ser exposta. Entretanto, na comemoração de final de ano, em 2018, os curtas foram exibidos para os alunos e funcionários do Case. Em janeiro de 2019, foi a vez dos familiares dos participantes assistirem às produções.

- Tivemos um momento bem engraçado. Estávamos gravando e alguns agentes da entidade estavam conversando perto do local da cena. Com isso, os alunos se obrigaram a pedir silêncio para os agentes, que prontamente colaboraram para que o barulho não vazasse. Isso mostra a dedicação deles com as oficinas - conta João Pedro.
Os alunos que participaram das oficinas guardam o tratamento carinhoso que ganharam do trio. A maioria deles nunca tinha tido contato com equipamentos de gravação, como câmeras e microfones. Um dos adolescentes, inclusive, compôs a letra de uma música para o curta Naskiera.

- A oficina serve até para pensarmos em uma profissão no futuro. Os professores nos tratam muito bem. São atenciosos e se divertem com a gente, ao contrário de outras pessoas que, às vezes, nos olham com desconfiança - relata um aluno.

A coordenadora pedagógica do Case, Rosane Grassi, e a diretora da Escola Humberto de Campos, Carla Flores, dizem que o projeto adentrou os prédios do serviço de proteção social através de um convênio entre a UFSM, o Ministério Público e a Fase. Rosane descreve como foi o processo:
- Eles se inscreveram no edital do convênio e nos trouxeram o projeto. As oficinas de audiovisual são diferentes de tudo que é feito aqui. O trabalho deles vai ao encontro do principal objetivo da Fase: a ressocialização.

Em 2019, as oficinas no Case devem voltar ainda em abril. João Pedro se exonerou do cargo de professor do Olavo Bilac para poder se dedicar a uma bolsa do programa americano Fulbright, em que dará aulas em uma universidade dos Estados Unidos. Como vai viajar apenas em setembro, ele pretende levar adiante as oficinas.

De acordo com o voluntário, os internos do Case poderão desfrutar dos sets de filmagem por mais uma temporada, no mínimo. Assim, terão a chance de aprender uma nova profissão e, principalmente, de transformar os próprios destinos.

*Colaborou Rafael Favero

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